E teve sua origem, o amor.
No começo era medo e a ternura que não queria nascer tampouco dar frutos.
Mas o amor nasceu desse mar negro de teus olhos, um amor que tem voz de anjo negro,
tem cheiro de chuva e corpos úmidos,
um amor sem remédio nem salvação,
nem vida, nem morte
nem sequer uma doce agonia.
Um amor rodeado de jardins e luzes,
e de tudo que não se sabe, porque nunca se sabe
como chega o amor - e derepente em tuas mãos
essas terríveis mãos negras (como meu pensamento)
se entrelaçam em meu corpo suado - outra vez - medo.
Nosso suor brilha como pérolas,
continuam brilhando após os beijos,
e os milhões de beijos parecem o fogo,
cheiramos derrota e triunfo.
É a história do nosso amor com obscura origem,
veio como asas de águia e a águia não tinha olhos,
e nós não viamos nem a margem do rio
e nossa distância eram fronteiras de países
e tão breve como um sorriso sem luz
nesse momento ele me estendia a mão
e eu tocava sua pele cheia de graça,
me submergia em seus olhos em chamas
e respirava como uma árvore despedaçada,
queria gritar que não tinha coração para amá-lo,
apenas uma inquietude do tamanho do céu.
Mas eu via que tudo estava em seus olhos - outra vez o mar negro -
esse mal, essa perigosa bondade,
esse crime, esse profundo espírito que tudo sabe,
e que já soube que estou de amor até os ombros,
seus olhos já descobriram e o esplêndido de sua pele também,
já o sabem as fotografias e as ruas,
as palavras igualmente o sabem...
todos já sabem que sabem,
ele e eu o sabemos,
e que vamos morrer tentando romper
esse invisível mar negro de nossas ausências...
Cássia Hazel