sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Mar negro



E teve sua origem, o amor.


No começo era medo e a ternura que não queria nascer tampouco dar frutos.


Mas o amor nasceu desse mar negro de teus olhos, um amor que tem voz de anjo negro,


tem cheiro de chuva e corpos úmidos,


um amor sem remédio nem salvação,


nem vida, nem morte


nem sequer uma doce agonia.





Um amor rodeado de jardins e luzes,


e de tudo que não se sabe, porque nunca se sabe


como chega o amor - e derepente em tuas mãos


essas terríveis mãos negras (como meu pensamento)


se entrelaçam em meu corpo suado - outra vez - medo.





Nosso suor brilha como pérolas,


continuam brilhando após os beijos,


e os milhões de beijos parecem o fogo,


cheiramos derrota e triunfo.





É a história do nosso amor com obscura origem,


veio como asas de águia e a águia não tinha olhos,


e nós não viamos nem a margem do rio


e nossa distância eram fronteiras de países


e tão breve como um sorriso sem luz


nesse momento ele me estendia a mão


e eu tocava sua pele cheia de graça,


me submergia em seus olhos em chamas


e respirava como uma árvore despedaçada,


queria gritar que não tinha coração para amá-lo,


apenas uma inquietude do tamanho do céu.





Mas eu via que tudo estava em seus olhos - outra vez o mar negro -


esse mal, essa perigosa bondade,


esse crime, esse profundo espírito que tudo sabe,


e que já soube que estou de amor até os ombros,


seus olhos já descobriram e o esplêndido de sua pele também,


já o sabem as fotografias e as ruas,


as palavras igualmente o sabem...


todos já sabem que sabem,


ele e eu o sabemos,


e que vamos morrer tentando romper


esse invisível mar negro de nossas ausências...

Cássia Hazel